sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ame-o e deixe-o: a teoria dos três mundos

Há momentos que ficam para sempre na memória, não é verdade? Pois é de um momento como esses que este texto vai partir. Sábado de sol, 7 de dezembro de 2002, Parque do Ibirapuera, São Paulo. Show especial dos Doces Bárbaros – Maria Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa. Tudo muito bom, inclusive a chuva digna de dilúvio, mas tudo ficou ainda melhor quando juntos os quatro baianos cantaram esta música:
O seu amor
(Gilberto Gil)
O seu amor/Ame-o e deixe-o/Livre para amar/Livre para amar/ Livre para amar
O seu amor/ Ame-o e deixe-o/ Ir aonde quiser/ Ir aonde quiser/ Ir aonde quiser
O seu amor/ Ame-o e deixe-o brincar/ Ame-o e deixe-o correr/ Ame-o e deixe-o cansar/Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor/ Ame-o e deixe-o/ Ser o que ele é/ Ser o que ele é/ Ser o que ele é.
A idéia de que perdemos algo é quase inevitável quando acaba um relacionamento. Mas perder o quê? Já ouviu falar em ilusão da posse? Na verdade, nos relacionamentos, ninguém está amarrado a ninguém, e a liberdade que cada parceiro tem o direito de desfrutar é como uma prova da própria força da relação: afinal, se ambos são livres e estão juntos, é porque juntos querem estar.
A segurança num relacionamento não pode vir da idéia de posse do outro, da vigilância ou pressão sobre o parceiro, porque ele não é uma coisa a ser guardada ou vigiada. É um ser humano, com vida, potenciais e desejos próprios e que precisa ter o espaço para viver isso respeitado.
A teoria dos três mundos
É da conquista dessa harmonia que fala a música de Gilberto Gil: ame o seu amor, mas o deixe livre para amar, deixe-o ir aonde quiser, deixe-o ser o que ele é. Naquele sábado, um relacionamento afetivo meu havia acabado duas semanas antes, e essa música apenas comprovou-me um aprendizado que eu já havia tido nesse namoro terminado: ninguém consegue alcançar a harmonia se encarar o namoro com uma gaiola e muito menos se agir como se o parceiro fosse um pássaro preso.
Antes de você chegar na vida do seu namorado ou da sua namorada, ele (a) já tinha sua própria vida, seu próprio ritmo, seus amigos, sua rotina. Você chegou, e passou a fazer parte dessa vida do outro. Existem, assim, três mundos: o seu, o dele e o que os dois passam a construir conjuntamente. Esses três mundos se misturam, é claro, mas o fato é que o respeito aos universos individuais é o único caminho pra que a harmonia faça parte do terceiro universo, o da relação, aquele construído pelos dois. E só assim é que esses três mundos poderão conviver e se complementar. Já fez o teste?
Driblando a lei do sabonete
Quanto mais você quer uma coisa, mais a deixe livre. É a lei do sabonete - uma espécie de Lei de Murphy adaptada: se você for todo afobado para segurá-lo a todo custo, ele provavelmente vai escorregar e voar pra bem longe da sua mão.
Imagine um pássaro numa gaiola. O dono o prende como garantia de que ele não vai escapar, mas certamente esse pássaro tem uma necessidade negada, que é a liberdade, e isso faz dele um ser menos feliz, com o olhar limitado, um pássaro menos rico em experiências e aprendizado. E, se um dos parceiros se sente numa gaiola, isso pode alimentar nele o desejo de sair dela e de buscar outros ares que não o sufoquem.
Ah, essa tal liberdade...
Um relacionamento não deve ser uma corrente, uma renúncia à sua liberdade enquanto sujeito livre. Não é mais gostoso e humano pensar que é a junção de duas liberdades, uma oportunidade de que dois seres livres, cada um com sua história, se encontrem pra compartilhar um relacionamento, com a consciência de que cada um é um ser individual e, o melhor, sentindo que, juntos, podem se tornar pássaros mais felizes? E isso tudo sem deixar, cada um, de ter sua própria vida.
Namoro é soma, multiplicação, divisão. Mas não subtração. A não ser subtração daquilo que faz mal para os enamorados e, portanto, deve ser jogado fora. A gaiola e o egoísmo, por exemplo. Espero que você consiga sentir-se um pássaro, livre, mas que sabe muito bem onde e com quem seu coração está. Se seu coração estiver sozinho, tudo bem. Você continua sendo um pássaro, com suas próprias asas e um céu imenso para voar. Alguém duvida?

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