quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder o que não dá mais pra ocultar; e eu não quero mais calar, já que o brilho desse olhar foi traidor e entregou o que você tentou conter, o que você não quis desabafar. Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar, e se perder e se achar".
A letra acima foi escrita por Gonzaguinha, e "popularizada" pela cantora Maria Bethânia. Gonzaguinha escrevia para pessoas como você e eu, que buscam se encontrar na vida. Encontros e descobertas de uma maneira geral – e, principalmente, encontros com o seu "eu" mais profundo. Nesse sentido, a descoberta da própria homossexualidade pode ser um acontecimento doloroso para muita gente. A música, entretanto, continua e parecer dizer tudo:
"Tudo aquilo que é viver, eu quero mesmo é me abrir, e que essa vida entre assim, como se fosse sol, desvirginando a madrugada, quero sentir a dor dessa manhã: nascendo, rompendo, tomando, rasgando meu corpo e, então, eu chorando, gostando, sofrendo, adorando, gritando; feito louca alucinada e criança, eu quero o meu amor se derramando. Não dá mais pra segurar. Explode coração".
Eu, Paulo, esperei 28 anos para cantar essa música. Foi a idade que tomei coragem de assumir para mim o que não dava mais pra segurar: minha homossexualidade.
Minha saga foi escrita com muita dor, dúvida e solidão – e qual o porquê de tanta demora em assumir a homossexualidade para mim mesmo? Porque não tinha consciência da minha homossexualidade; não enxergava, mas acima de tudo, negava, talvez por não poder aceitar "uma coisa dessas" comigo.
Havia também todo lance de vir de uma formação religiosa rígida... E como que foi assumir a minha homossexualidade publicamente, o famoso "sair do armário"?
No meu caso, foi justamente a minha primeira relação sexual com uma pessoa do mesmo sexo, aos 28 anos de idade. A partir daí, duas pessoas "sabiam de mim": eu e ele, meu primeiro parceiro e namorado.
Após o término desse relacionamento, tive outros parceiros e fiz novas amizades com pessoas gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais. Em pouco tempo, já tinha assumido para "muita gente" o meu segredo, umas dez pessoas, talvez. De um em um, eu fui me aceitando melhor, e, no boca a boca (literalmente), eu fui sendo gay.
Fui gostando da brincadeira de "sair do armário". Criei coragem para contar para amigos heterossexuais e para familiares. Foi tudo extremamente complexo e simples, sem pressa, sem pressão externa, devagar e sempre, eu fui saindo do armário. Agora, estou aqui, escrevendo. Já pensou o que vão dizer um monte de gente que ainda não sabia de mim?
Para quem está em sofrimento por causa de se descobrir homossexual, segue assim alguns conselhos:
1) Assuma os seus desejos para si mesmo e pare de sofrer desnecessariamente.
2) Não tenha pressa. Faça amizades. Viva sua sexualidade. Não se isole. Não se culpe.
3) sair do armário para todo mundo não é algo obrigatório e muito menos necessário. Você decide o momento e as pessoas.
4) Quando "descobrem", a agonia às vezes é grande, mas há males que vêm para bem.
Não seja apenas espectador da vida.

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