Era uma vez um armário muito grande, aliás o maior armário do mundo. Nesse armário, tinha muita gente, pessoas de todos os tipos, cores, credos, estilos... E por aí vai. Só que essas pessoas que viviam nesse armário não conseguiam ver as outras porque esse armário era muito escuro, sem nenhuma fresta de claridade. Portanto, elas achavam que estavam sós. Viviam amedrontadas, afinal quem não tem medo do escuro?
Desde crianças, somos aterrorizados pela figura do bicho-papão, do monstro debaixo da cama que quer comer nossos pés, do homem-do-saco, dos fantasmas, dos espíritos, das bruxas e de muitos outros personagens que têm como profissão nos deixar em pânico. Quando crescemos, esses bichos feios continuam dentro da gente, assim como uma série de idéias e conceitos que nossos pais adoram enfiar em nossas cabeças.
Quando alguém descobria que não se enquadrava nos conceitos morais e cristãos que os pais julgavam ser os únicos corretos, o jeito mais fácil que encontrava para driblar tudo isso era pegar a senha e ser mais um(a) a entrar no armário, e o que ficava fora dele era apenas um espectro do que os outros queriam que esse alguém fosse.
Eis que um dia surge um outro armário, só que esse é mais claro, e, assim como é fácil de entrar, também é de sair. O nome desse armário é Internet, conhece? Um armário muito, muito, muito, mas muito maior que aquele outro, o escuro. Tão grande que cabe pessoas de outras cidades, estados, até de outros países! Esse armário era tão claro que as pessoas perdiam o medo de lá ficarem e serem vistas pelas outras que nele entravam, e isso transformou muito a vida de todo mundo.
Elas viam que não estavam sós e que havia muita gente que também não se enquadrava no que os outros julgavam ser "o correto". Aí, começaram a se questionar: pôxa, tanta gente como eu aqui... Será que o problema está na nossa cabeça ou na cabeça dos outros?
A as respostas vieram logo. A Internet abriu as suas portas para a entrada de pessoas que tinham medo, deveras, de assumir a sua orientação sexual. Muita gente, porém, começou a usar a Internet não mais como um armário para se esconder, mas como um ponto de encontro para conhecer outras pessoas que tinham desejos, projetos e sonhos em comum.
Essas pessoas não estavam interessadas no mundo virtual apenas, queriam mais, queriam ter a certeza de que realmente não estavam sozinhas - e mais e mais pessoas começaram a se conhecer: aquele conhecia este que era amigo íntimo daquela que adoraria conhecer a outra que morava no mesmo bairro dessa que era apaixonada por esta que também conhecia aquele que era namorado desse. Era a verdadeira quadrilha da música "Flor da Idade", do Chico Buarque.
Enfim, as pessoas não tinham mais medo de sair daquele armário escuro e entrar no armário da Internet e, também deste, sair para o mundo - e foi assim que muita gente venceu a barreira do armário, foi assim que muita gente conheceu sua cara metade, que atualizou os conceitos morais e cristãos da sua própria família.
Foi assim que muita gente banalizou aquilo que as outras pessoas mais estranhavam, foi assim que muitas pessoas criaram este site com o objetivo de ajudar as outras pessoas e assumirem a sua orientação sexual, a parar de trocar pronomes, a inventar namoros de fachada e serem, então, mais infelizes, foi assim...Foi assim que, um dia, com a ajuda da Internet, as outras pessoas perderam o preconceito e o nosso mundo deixou de ser escuro e triste para ser alegre e colorido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário